Enquanto a tua palavra for
a única opção possível,
a verdade absoluta,
e a minha for absurda, alucinação ou mentira.
Enquanto o que tu dizes for como uma ordem
(não é preciso eu pensar se é certo ou não;
tu já pensaste tudo o que havia para pensar)
e o que eu digo,
quando me atrevo,
for ignorado ou atacado.
Enquanto só o que tu pensas, sentes ou dizes, for válido,
enquanto não levares a sério nada do que eu digo ou sinto,
e te limitares a gozar, ignorar ou tentar aterrorizar.
Enquanto tu fores a cabeça e o coração,
só tu poderes pensar ou sentir,
e eu for um simples corpo para o que for preciso.
Enquanto tu fores perfeito,
tão perfeito que quase nem Deus consegue ser assim tanto,
e eu for a causa de todos os males.
Enquanto o diálogo for um monólogo gritado
e qualquer palavra ou atitude minha
levar a uma onda ininterrupta de vinganças.
Enquanto eu for acusada por fazer,
e também por não fazer,
por dizer,
ou por não dizer
(assim nunca haverá falta de pretextos para acusar).
Enquanto tu fores o todo-perfeito
e eu o monstro,
não poderemos estar juntos,
“Pois que ligação pode haver entre a luz e as trevas?”
Muitas vítimas de violência doméstica têm uma atitude passiva; outras lutam incansavelmente pela mudança da sua situação.
Mas, seja qual for a sua forma de reacção, há uma linha comum a todas elas - o doloroso e inalterável absurdo da sua realidade diária.
domingo, 10 de janeiro de 2010
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